Imagina um caminho de mão dupla a sua frente. Imagina que você está no começo desse caminho levando sua mochila e a frente desse caminho você consegue ver algumas partes em que ele segue reto, outras que tem curvas, outras subidas e descidas.
E aí você decide caminhar e a medida que caminha, vê a sua frente alguns pontos bem no meio e vai chegando perto do primeiro ponto. Ele de perto parece um obstáculo bem no meio do seu caminho, mas ele é baixo e pra seguir em frente é só pular, você pula e outro mais a frente aparece, um segundo obstáculo um pouquinho maior mas como o primeiro te fez pular, já sabe agora a dar pulos e mesmo um pouco alto, consegue vence-lo, caminhando mais um pouco fazendo a curva, vai encontrar outro obstáculo e percebe que esse está numa curva e que mesmo sendo mais perigoso por estar numa curva, precisa continuar e pula, conforme você caminha nessa via de mão dupla, encontra-se com pessoas e animais vindo e enfrentando os mesmos problemas que você, os benditos obstáculos, o obstáculo da curva mesmo sendo mais perigoso e um pouquinho mais alto, não te assusta e você escala e pula, rala o joelho e o braço e conforme anda, outros aparecem mais altos e outros baixos, os altos te fazem escalar e dar pulos altíssimos, os baixos te fazem tropeçar. Outras pessoas passam por você e você nota machucados nelas, uns piores do que os seus, outros não, uns te cumprimentam, outros te ignoram.
Conforme você vai caminhando e tendo dificuldades e porque alguns obstáculos te fizeram sofrer noites de dor que a propósito também foram superadas, você começa a ficar com medo dos próximos, e de repente antes de encontrar um obstáculo, começa a imaginar o que pode te acontecer caso caia. Mesmo com medo e receoso, você vai, coração acelerado, a cada curva o frio na barriga de se deparar com um muro grande que te faça ter que escalar, mas o próximo obstáculo é pequeno e ele não é não tão alto, você se surpreende. Ufa você o pula feliz, sentindo-se aliviado, sente-se até mais leve começa a caminhar com mais confiança e logo à frente vem um obstáculo maior, mas você vai, se rala todo, entretanto, pula, afinal você precisa seguir adiante. Começar a ficar com medo de novo e novamente começa a encontrar outros maiores mas antes de achar outros e de chegar perto deles, você para e decide ficar ali, está cansado afinal você não sabe quão maiores esses outros serão, fica ansioso e decide parar.
Você tem medo dos que estão a sua frente e olha que você nem os conhece.
Num dia parado, vê vindo ao longe uma mulher carregando um vaso na cabeça, ela ao te ver parado, também para, te olha e diz:
-Você está cansado e com medo de se machucar não é? Encontrei umas pessoas paradas também, vai ficar aqui?
Respondo que sim e justifico dizendo que não tenho pique para me machucar mais.
E ela com um olhar penetrante e sereno e com uma voz firme, me diz: -Só que você não percebeu que todos aqueles obstáculos que você ULTRAPASSOU, fizeram com que seus braços ficassem mais musculosos por causa da força exigida, suas pernas adquiriram resistência por causa dos pulos e o melhor, você conseguiu ultrapassa-los por mais que tenha caído, se machucado batido com a cabeça e sangrado, se não tentasse, jamais teria conseguido. Se o que te fez parar de seguir em frente foi o medo deu não saber o que te espera, você praticamente criou obstáculos em pensamento mas não foi machucando que você soube que conseguia pular, escalar? Não foi enfrentando que você descobriu que era capaz de seguir em frente?
-Quando paramos por medo e decidimos fazer nossa casa ali naquele lugar só para não termos que correr riscos, acabamos tendo que construir uma redoma para cada medo e cada trauma e cada ponto fraco, agora imagine que para cada um desses pontos fracos construímos um cercado e nele colocamos soldados armados e vigias e tudo que chega perto do cercado e que nos ameaça, um alarme toca e contra esse algo é deferido um tiro.
Só que se pararmos pra pensar, os supostos intrusos podem não ser intrusos e acabamos machucando e mandando embora o que não era uma ameaça. Eu não sei como seria trabalhar um ponto fraco meu se não deixo nada nem ninguém chegar perto dele, nem eu mesma, porque quando evito de pensar sobre ele, é porque ouvi meu alarme tocar.
Colocar nossos medos numa redoma e protege-los de tudo e de todos, pode inclusive protege-los do que não era ameaça mas que poderia ser uma cura. Tem gente que levanta paredes tão altas quanto os muros de Tróia, tem gente que caminha seu caminho e que constrói seu muro conforme anda, seus limites impostos pela sociedade, sua religiosidade que te reprime ser quem é, são exemplos de obstáculos e essas pessoas além de levanta-los, também os pula. As vezes o obstáculo é pequeno mas você o torna grande, levanta um muro alto e se corta e se rala e se quebra e muitas das vezes era só ter dado a volta.
Eu sei que o medo é paralisante, ninguém disse que não é, eu sei que a gente sofreu muito na vida ninguém tá falando que você não sofreu, mas nem tudo vem para cutucar o seu medo e faze-lo sangrar, todos aqueles obstáculos que você imaginou que tivesse a sua frente podem sequer existir, mas só o fato de pensar neles, os dá vida.
Eu não diria que todos os obstáculos são construídos por nós, mas eu diria que 90% deles são e também digo que todos são superáveis, mesmo os altos e os tombos fazem parte do caminho.
Não deixe que o obstáculo seja seu caminho, deixe-os apenas fazer parte do seu caminho.
No fim você perceberá que quem te fez, quem te esculpiu foram os obstáculos pelos quais passou. Chegar ao Everest não é tão importante quanto o desafio de que te fez chegar lá. O início e o fim só são importantes quando o meio foi preenchido.
Continue caminhando.
Continue caminhando.
Ah não se que esqueça de uma coisa importante, a mágica do caminho é que todos os que você encontrou por ele, são uma versão de você andando na mesma estrada e enfrentando obstáculos diferentes.
Durma com essa e tenha bons sonhos. E não se esqueça, eles também são caminhos.